Redes sociais mais usadas: Como elas podem levar a reviver o mito da caverna de Platão?

Dias desses, estava um amigo navegando na internet e por um instante passou na mente dele: o que será que eu veria na timeline da minha esposa ou mesmo na de outros amigos nas redes sociais mais usadas atualmente?

Pouco depois, ele teve a oportunidade de ver a timeline da esposa. Enorme foi sua surpresa ao perceber que em suas redes sociais mais usadas, ela tinha vínculos completamente diferentes dos dele.

Descobriu, por exemplo, que ela navegava em assuntos ligados à música sertaneja, country ou, ainda, viagens.

No entanto, ele tinha nas mídias sociais temas ligados ao empreendedorismo e cultura de startup. A questão que levantei para ele causou uma grande reflexão. Imagina o que aconteceria se os assuntos que mais déssemos atenção com os nossos likes e comentários fossem radicais?

Bem, caro leitor, é aqui que se inicia nossa jornada para dentro da Caverna de Platão, a partir das redes sociais mais usadas.

O pensamento desenvolvido por Platão, que bebeu diretamente da fonte de Sócrates. E usava o método da dialética (relacionado à argumentação, ao questionamento e à busca pela verdade), abordava dois tipos de “mundos”.

O primeiro deles, o sensível, estava ligado aos sentidos, ao que tocamos. Já o mundo das ideias, ou inteligível, dizia respeito ao abstrato, ao que pensamos, imaginamos.

O mito da caverna

Essa história, escrita por Platão, também é conhecida como Alegoria da Caverna. Ela discute temas como a ignorância e o conhecimento, por meio de uma espécie de parábola:

Em um determinado lugar, existia um grupo de pessoas que viviam em uma caverna, acorrentadas há muitos anos. Elas não podiam se mover, viradas de costas para a saída da caverna e só conseguiam olhar o fundo. Além disso, atrás deles havia uma parede, com uma fogueira acesa.

Diversos transeuntes passavam pelo local, carregando objetos. Mas, os prisioneiros só conseguiam ver as sombras, que não passavam de projeções, e acreditavam ser aquela a realidade. Aqui podemos constatar que eles apenas tinham contato com o mundo sensível, com o palpável.

Em um belo dia, uma das pessoas que estavam acorrentadas conseguiu se soltar e escapou para fora da caverna. A consequência foi levar um grande choque: a luz da fogueira e a claridade do exterior assustaram aquele homem, que nunca tinha entrado em contato com a luminosidade.

Nesse momento, ele quis voltar à caverna, ao que estava acostumado à sua vida toda. Mas, com o passar do tempo, se encantou com as novidades e quis voltar para contar aos outros prisioneiros tudo o que estava vendo.

Aqui, ele chega ao mundo das ideias, vê a essência das coisas. Chegando ao local, teve a triste surpresa: ninguém acreditou no que ele dizia e o chamaram de louco!

Sabe como acabou essa história? Da forma mais trágica possível. Acostumados com aquela realidade, eles não cogitaram que o mundo pudesse ser diferente daquele que conheciam.

Para que o fugitivo não disseminasse essa “insanidade”, o mataram. Será que podemos fazer um paralelo com nossa realidade?

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Como essa história se relaciona com as redes sociais mais usadas?

Lembram-se da timeline das redes sociais? Pois bem, elas são hoje nossa caverna. Os algoritmos destas plataformas nos acorrentam com suas lógicas de predileção baseada no comportamento online que temos.

Escolhem o que nós veremos, ofuscando nossa visão real do mundo. De certa forma, é como se aquilo fosse imposto e só absorvêssemos esse conteúdo sem muitos questionamentos.

Começamos a ter uma geração que, a partir das redes sociais mais usadas, tem sobre si mesmo e sobre o outro apenas uma sombra, uma vaga imagem do que são.

Literalmente, se formos concluir o que estamos nos tornando hoje com as redes sociais, provavelmente constataríamos que estamos nos tornando mais ignorantes no sentido relacionado ao conhecimento.

Um medo: assim como na caverna de Platão, ao tentar mostrar que havia vida fora da caverna, penso que, em muitos movimentos radicais nascidos nas redes sociais mais usadas hoje em dia, temos o mesmo comportamento.

Queremos “matar” quem não é do nosso “time escolhido”. Minha esperança no ser humano é que ele possa sair de mais uma caverna que ele mesmo criou… Gratidão por compartilhar com vocês esta reflexão.

Benício Filho.