O Modismo Moderno e nossa relação com o Digital

Quero começar este artigo fazendo uma reflexão sobre o homem moderno. Este ponto de partida irá ajudá-lo a compreender os perigos de seguir o modismo, uma vez que eles não representam nossas escolhas, mas sim apenas movimentos que em muitos casos pouco tem de valorosos para nós. 

Para ajudar, busco a obra do filósofo suíço Jean-Jacques Rousseau (1712–1778), que considerava que no estado primitivo o homem não possui consciência racional e seu estado de evolução seria igual ao dos animais ou seja:

Estado de natureza: o homem possui consciência e inteligência, diferenciando-se dos animais.

A diferenciação entre o homem natural e o animal se dá por três categorias, são elas: 

Primeiro: há no homem a capacidade de preocupação com situações que, porventura, possam vir a afligi-lo, como: enfermidades, desastres, velhice etc., algo que os animais não fazem. 

Segundo: o homem possui razão e os animais, instinto.

Só a razão proporciona liberdade, pois só o homem é capaz de escolher algo que realmente queira fazer, enquanto o animal o faz por instinto. O melhor exemplo aqui é pensar na montaria de um cavalo.

O cavalo não escolhe ser montado, é adestrado a servir o cavaleiro, enquanto o homem escolhe se irá montar ou não; 

Terceiro: o homem tem a capacidade do aperfeiçoamento, ou seja, evolui.

Há, no homem natural, a capacidade de se manter em equilíbrio com a natureza quanto às questões de alimentação, da reprodução e da morte, não temendo esta última. 

Como em todos os seres da natureza que são ameaçados e possuem a capacidade de se defenderem, os homens naturais também o fazem, podendo ser agressivos nesta situação.

ROUSSEAU. O DESENVOLVIMENTO HUMANO E O MODISMO.

Infelizmente, para Rousseau, a tendência natural da humanidade é o seu desenvolvimento, dos hábitos e dos costumes, levando a humanidade a mudar. Esta mudança, acreditava Rousseau, era ruim porque não garantia à humanidade a possibilidade da felicidade ou da igualdade.

Rousseau não quer, com isso, incentivar a sociedade ao retorno à vida primitiva, pelo contrário, busca provocar a sociedade civilizada à reflexão de que haveria uma humanidade no homem natural que é, por vezes, maior do que no homem moderno e no homem primitivo.

Assim, não haveria como regenerar o homem moderno, pois a humanidade não retrocede, apenas avança.

No estado de natureza, na perfectibilidade, por exemplo, há igualdade. Os homens não se diferenciam entre si. Não há um melhor do que o outro, todos vivem em conjunto para a melhoria coletiva. Neste ponto, o homem não é malicioso, não tem orgulho.

Antes de avançar, porém, deixa eu explicar para você o que é perfectibilidade:

A perfectibilidade é um neologismo criado por Rousseau para exprimir a capacidade que o homem possui de aperfeiçoar-se. Para Rousseau este era o estágio no qual o homem deveria ter parado. Vivendo em sociedade, com poucas necessidades e com condições de atendê-las, o homem teria tudo para ser feliz.

Agora, imagine um grupo de homens, todos caçadores, dois são arqueiros. Se todos saem para caçar, o mais importante é o trabalho em grupo e o objetivo comum é abater a caça. Mas, após o estado de perfectibilidade, o homem começa a produzir o orgulho, a cobiça e a inveja. Agora, neste processo de evolução, os homens começam a se comparar: o melhor arqueiro ou o homem que trouxe a maior caça. Isso, para Rousseau, desperta a individualidade, a inveja e a cobiça.

Porém, Rousseau entende que o homem, ao evoluir para além do estado natural, adquire novas capacidades na civilidade, pois é capaz agora de tratar o seu intelecto e pela racionalidade consegue elevar a alma e enobrecer os seus sentimentos.

Este filósofo, portanto, não é contra a evolução da humanidade e dos valores naturais aos seres humanos, mas é sim contra a degeneração provocada pelos abusos da propriedade que o homem egoisticamente confere a si mesmo sobre os produtos criados pela sociedade, como a mentira e a ostentação, que visam uma única coisa: a satisfação das consciências e dos egos detentores da propriedade e do poder social.

Por isso Rousseau é contra todos os tipos de modismos criados pela sociedade. Admira as Artes e a ciência, mas aconselha que estas não se percam entre os modismos, pois o modismo fere a possibilidade do surgimento de espíritos livres. Neste sentido, a liberdade do ser e do pensar.

O MODISMO FERE OS ESPÍRITOS LIVRES

O modismo da sociedade influencia com muita força nosso agir e pensar, tirando grande parte da nossa autonomia. 

Em alguns casos, adquirimos gírias e figuras de linguagem, em outros, adotamos o gosto por estilos musicais ou culturais que não nos pertenciam até pouco tempo. 

De repente, podemos nos encontrar frequentando o mesmo local que toda a cidade parece frequentar – e quase sempre no mesmo horário. Mas em casos mais sérios adotamos o ponto de vista e a forma de interpretação do mundo que nos é imposta pelos veículos de comunicação e difusão cultural, de setores atrasados da sociedade. 

Se estamos agindo em função de um grupo ou movimento e não segundo nossa própria natureza, será que somos resultado das nossas escolhas ou estamos vivendo uma vida que não é a nossa?

A NOSSA ESCOLHA EM DETRIMENTO DO MODISMO

Somos a todos os momentos alertados, excitados ou mesmo invadidos por produtos, estilos ou posturas que não representam quem somos, apenas representam, como diria Rousseau, o poder ou ainda um grupo econômico qualquer.

A primeira vez que vi em minhas redes sociais as famosas dancinhas que se popularizaram no Tik Tok e logo invadiram todas as demais, me perguntei apenas o que estas pessoas que replicam este comportamento querem.

Já somos o país em que mais pessoas no mundo afirmam que suas profissões são influenciadoras!

Atualmente, em nossa nação, o mercado de influencers digitais conta com mais de 500 mil participantes, segundo a empresa de informação, dados e mediação germânico-americana Nielsen Media Research. Este número é superior ao número de advogados, médicos ou engenheiros. 

Ou seja, o modismo tem terreno fértil no Brasil. Basta lembrar apenas como exemplo dos modelos de negócios que foram criados por modismo e não por existir, de fato, uma grande demanda no mercado: eu cito as paleterias, barbearias gourmet e design de sobrancelhas.

Quantas pessoas abriram negócios como esses e fecharam meses depois por não ter viabilidade? O resultado por seguir uma moda foi, para muitos, o buraco financeiro.

A NOSSA RELAÇÃO COM AS REDES SOCIAIS PODE SER UMA AFIRMAÇÃO DO QUE SOMOS 

Fugir dos modismos é sim uma opção nossa. Cada um de nós pode ter nas redes sociais um aliado para ser mais quem somos e menos o que os outros querem que sejamos ou o que eles estão fazendo.

Não se trata aqui de definir quem somos nós e quem são eles, mas sim de fincar o pé em quem somos afinal. Não somos fruto de movimentos, mas devemos criar os movimentos. 

Interessante pensar assim, pois a afirmação do que somos lança luzes importantes sobre nosso autoconhecimento. 

Algumas perguntas que podem ser feitas, sempre que somos expostos a produtos, serviços ou aquela simples mensagem que pede uma replicação ou ainda aos movimentos em massa das redes sociais, são as seguintes: 

Por que devo fazer isso? Quero mesmo fazer isso? Consumir ou replicar este movimento reforça o que eu sou enquanto pessoa humana? Sou fruto deste momento ou sou resultado de uma história vivida que tem identidade própria?

Se a frase “Meu corpo, Minhas regras” vale para nosso corpo, também poderíamos adotar a frase, “Minha inteligência, meus valores”. 

Somos bem mais do que um movimento de manadas. As redes sociais podem apoiá-lo a ser sua verdadeira essência, mas longe de criticar o que está lá, veja o que você e sua empresa estão fazendo e passando de posicionamento nas redes sociais.

O que importa na vida é o que somos, mas o que enviamos de mensagem compõem o todo e diz muito sobre nós.

Gostou do artigo? Comente, compartilhe e mande sua mensagem para nós. 

Na Black Beans nós teremos todo prazer em ajudá-lo a compreender cada dia mais como o digital pode transformar e gerar valor para você e para sua empresa. 

Forte abraço e até o próximo conteúdo. 

Sobre o autor,

Benício Filho – Formado em eletrônica, graduado em Teologia pela PUC SP, com MBA pela FGV em Gestão Estratégica e Econômica de Negócios, pós-graduado em Vendas pelo Instituto Venda Mais, Mestrando pela Universidade Metodista de São Paulo na área de Educação e pós-graduado em Psicanálise pelo Instituto Kadmon de Psicanálise. Atualmente também está concluindo o curso de bacharelado em Filosofia pela universidade Salesiana Dom Bosco. Atua no mercado de tecnologia desde 1998. Fundador do Grupo Ravel de Tecnologia, Cofundador dá Palestras & Conteúdo, Sócio da Core Angels (Fundo de Investimento Internacional para Startups), sócio fundador da Agência Incandescente, sócio fundador do Conexão Europa e da Atlantic Hub (Empresa de Internacionalização de Negócios em Portugal), atua também como Mentor e Investidor Anjo de inúmeras Startups (onde possui cerca de 30 Startups em seu Portfólio), além de participar de programas de aceleração como SEBRAE Capital Empreendedor, SEBRAE Like a Boss, Inovativa (Governo Federal) entre outros. Palestrando desde 2016 sobre temas como Cultura de Inovação, Cultura de Startups, Liderança, Empreendedorismo, Vendas, Espiritualidade e Essência, já esteve presente em mais de 230 eventos (número atualizado em dezembro de 2020). É conselheiro do ITESCS (Instituto de Tecnologia de São Caetano do Sul), bem como em outras empresas e associações. Lançou em dezembro de 2019 o seu primeiro livro “Vidas Ressignificadas” e em dezembro de 2020 “Do Caos ao Recomeço”.